Parlamentares pressionam governo a reabrir Refis – 08/02/2017

Parlamentares e empresários se articulam no Congresso para modificar o Programa de Regularização Tributária (PRT), espécie de Refis lançado pelo governo no fim do ano, com o objetivo de ampliar o número de parcelas, diminuir o valor dos pagamentos e permitir desconto nas multas, juros e encargos financeiros de dívidas com a União.

O prazo de apresentação de emendas acabou ontem, com quase 300 sugestões à Medida Provisória (MP) 766/2017 – a demanda era tanta que uma fila com uma dezena de assessores se formou no protocolo. O relator será um deputado e o presidente da comissão, um senador, mas os nomes não estão definidos e ainda não há reunião marcada para iniciar as discussões. Mesmo que o relator não acate as emendas, partidos podem pedir a votação direto em plenário.
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Pressionado pelos congressistas e empresários a encampar um programa de refinanciamento de dívidas (refis), o governo sinalizou com a reabertura do parcelamento, mas no fim atendeu aos apelos da equipe econômica e mandou uma versão mais dura, que permite utilizar os prejuízos fiscais de anos anteriores para abater a dívida, mas sem desconto na multa ou juros e com prazo mais curto, de dez anos.
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Para o deputado Alfredo Kaefer (PSL-PR), autor de projeto para criar um Refis nos moldes dos realizados anteriormente, com parcelamento longo (20 anos), desconto generoso na multa e juros e sem que a empresa perca os benefícios caso atrase novos impostos, as regras propostas pelo governo não resolvem o problema dos empresários, que estão quebrados depois de três anos seguidos de crise econômica.
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“Essa versão está muito ruim. Beneficiou meia dúzia de empresas grandes que têm crédito fiscal e pouca dívida, que não vão nem entrar no parcelamento, vão só usar esses créditos para abater as dívidas e zerar suas posições com a União”, afirma Kaefer. “Está uma chiadeira no Brasil inteiro, do grande ao pequeno empresário, porque assim não resolve nada para os outros.”
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Também fizeram emendas para abrir um “verdadeiro Refis” os deputados Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), Nelson Padovani (PSDB-PR) e Luís Carlos Heinze (PP-RS). O Refis de Heinze, por exemplo, permite parcelar dívidas em até 30 anos. O abatimento nos juros e multas depende do número de parcelas, mas variaria de 100% a 20%.
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Empresários contam com apoio de deputados e senadores para modificar o texto em tramitação e convencer o governo a não vetar as alterações. O Ministério da Fazenda é contra a flexibilização, dizendo que isso estimula a inadimplência e que a maioria das empresas adere ao Refis para conseguir as certidões negativas e, depois, deixa novamente de pagar os impostos. Procurada, a Receita não quis comentar as emendas.
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Pressão pela reabertura do Refis a parte, a maioria das emendas apresentadas tenta modificar as regras do programa. Parlamentares de PR, PP, PSDB, PSD, PSB, PTB, entre outros, querem ampliar o prazo de parcelamento, limitado a dez anos pela MP, permitir desconto nos juros e multa e autorizar o uso dos prejuízos fiscais para abater não só as dívidas com a Receita, como está no projeto, mas também as já inscritas na dívida ativa.
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Há demanda também para liberar as companhias de apresentarem garantias para renegociar a quitação de dívidas superiores a R$ 15 milhões com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e para atrelar o valor das parcelas a um percentual do faturamento da empresa. O argumento é que, se a crise continuar e a receita cair mais, será impossível manter os pagamentos sem uma redução no fluxo.
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Líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC) apresentou emenda com todas essas modificações. “A ideia da equipe do ministro [da Fazenda, Henrique] Meirelles, de utilizar prejuízos que a empresa teve para amortizar débitos tributários, é inovadora e positiva. Porém, no momento de crise que estamos, é pesado para empresa pagar à vista os 20% do débito, descontando-se os prejuízos fiscais”, afirmou. “Ou reduz a multa e encargos do valor ou, se não for possível, se parcele o débito em mais vezes. Do contrário acho difícil resolver o problema da inadimplência”, disse.
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A MP prevê que, para as dívidas com a Receita, a empresa poderá abater até 80% com o uso de prejuízos fiscais ocorridos até 2015, mas terá que quitar o restante à vista, ou descontar 76% com os créditos fiscais e parcelar o restante em 24 vezes. Não há outros benefícios para quem não tiver prejuízos a abater além de parcelar o pagamento da dívida.
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Para empresários e especialistas, sem mudanças a adesão será baixa. “As empresas que tinham um grande estoque de prejuízo fiscal utilizaram dentro das leis anteriores [do Refis]. O que se tem agora é o prejuízo gerado entre 2014 e 2015, que é insuficiente”, diz a advogada Edrisa Pereira, que tem prestado consultoria para associações e empresas interessadas na renegociação. Segundo ela, poucos setores serão beneficiados, entre eles as operadoras de telecomunicações.
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Outro ponto que causa bastante preocupação nos empresários, e é assunto de quase uma dezena de emendas, é a proibição para que as dívidas reparceladas sejam escritas futuramente em um outro programa de financiamento que for instituído pela União. O devedor que aceitar renegociar agora não poderá aderir a um reparcelamento mais vantajoso no futuro.
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Um complicador é que a adesão ao PRT acaba em 31 de maio, poucos dias antes do fim do prazo para o Congresso votar a MP – e bem antes de o presidente Michel Temer decidir se sanciona ou veta as eventuais mudanças. As empresas terão que decidir se arriscam esperar por alterações no programa ou se aderem antes para garantir o parcelamento.
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Fonte: Valor Econômico