Mantega ameaça reduzir alíquota para importar aço – 14/06/2010

SÃO PAULO – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse na sexta-feira que o governo pode reduzir a alíquota de importação de aço. A declaração foi dada depois que foi anunciado que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) registrou variação de 3,14% no primeiro decêndio de junho. No mesmo período do mês de maio, a taxa foi de 0,49%. A principal causa da elevação foi a alta do minério de ferro, matéria-prima da produção de aço.
A taxa de variação do índice referente a Bens Finais recuou de 0,11% para -0,65%.
A divulgação pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) variou 2,21%, no primeiro decêndio do mês de junho em decorrência do aumento de preços do aço e do minério de ferro. Para o mesmo período de apuração no mês anterior, a variação foi de 0,47%.
“O índice referente a Matérias-Primas Brutas registrou variação de 11,26%. No mês anterior, a taxa foi de 0,53%. O item que mais contribuiu para a trajetória de aceleração deste grupo foi o minério de ferro (de -2,67% para 75,25%)”, relata o documento apresentado pela FGV.
De acordo com o ministro, a Câmara de Comércio Exterior tem a palavra final sobre o possível aumento das tarifas.
“Quando o setor começa a exagerar na dose e elevar preços, ele já sabe o que vai acontecer: vamos baixar a tarifa de importação”, declarou Mantega, em São Paulo. “O que mais preocupa é o aço, porque ele causa um impacto em toda a economia.”
O ministro disse que a expansão da demanda interna não está gerando pressão na inflação e que não há superaquecimento econômico. “É bom deixar claro que a inflação que tivemos no primeiro trimestre deste ano não se deveu ao ritmo de crescimento”, disse o ministro.
Segundo Mantega, a economia já está se desacelerando por causa do fim das medidas de estímulo, devendo crescer de 6% a 6,5% este ano.
O presidente do Instituto de Aço Brasileiro (IABR), Marco Polo de Mello Lopes, contestou a declaração de Mantega.
Segundo Lopes, a declaração foi recebida com surpresa, uma vez que a redução teria dois motivos para ser exceção de mercado: a especulação de preço ou o desabastecimento do produto internamente.
“Hoje temos um excedente da ordem de 90%, o setor de aço é o que possui maior sobra de produção. Já a especulação de preços existente pelos setores de bens duráveis, como linha branca e automobilístico, é irreal. Fizemos uma análise por meio do IPT em carros e eletrodomésticos e constatamos que os carros utilizam no máximo 10% de aço em sua composição, o que não teria um impacto significativo gerado pelo fator do aumento de preço”, frisou Lopes.
Mauro Calil, educador do Centro de Estudos Calil & Calil, argumenta que não é necessário essa medida, por mais que ela tenha resultados positivos.
“O ministro diz que não precisaremos nos preocupar com a inflação, uma vez que a Selic está em alta e a economia se desacelerando, então qual o objetivo dessa redução do preço das importações de aço? Além disso, ela é desnecessária, uma vez que gerará perda de competitividade do setor, redução dos lucros e possível aumento do nível de desemprego”, declarou Calil.
“O governo poderia ter tido esta ideia quando o preço do minério de ferro, que é um dos componentes do aço, teve a modificação em sua forma de precificação, ao passar de anual para trimestral e ter aumento de 100%. Agora, não há um real motivo”, afirmou.
Segundo ele, o minério de ferro e o carvão representam mais de 50% da estrutura de produção do setor de aço é impensável que o setor siderúrgico simplesmente absorva isso. Nós achamos que o governo não deve intervir no que diz respeito ao aço. Querem colocar anormalidade onde existe normalidade. Os preços são compatíveis, os aumentos são mundiais”, complementou o vice-presidente do IABR.
Empresário do setor afirmou que com essa redução haverá realmente uma redução do número de empregos, pois não há estabilidade de regras, o que complica investimentos futuros.
O analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, relata que os IGPs são decorrentes da alta de 75% do minério de ferro, que vem no processo de altas fortes, mas já atingiu o seu máximo. “O minério de ferro já teve sua cotação em US$ 189 por tonelada hoje está em US$ 150 e deve apontar a US$ 136 no final de 2010”, recorda.
De acordo com o analista da Rosenberg Consultores Associados Felipe Insunza, o efeito do minério de ferro nos índices de preço deve acabar já este mês. No entanto, ele prevê que o preço do insumo básico da siderurgia deve manter um patamar alto, uma vez que, anualizado, o aumento do setor siderúrgico será de 12%.
“Qualquer redução no imposto de importação iria aliviar os preços. Mas não terá um impacto tão considerável, uma vez que o Brasil é muito competitivo, pela alta produção”, disse Insunza.
Fonte: Diário Comércio, Indústria e Serviços