Fisco vê má-fé em planejamento tributário – 22/07/2013

A Receita Federal montou uma operação de guerra contra grandes empresas que, amparadas pela legislação tribut&aacuteria, encontram formas de reduzir o imposto. Juntas, essas companhias descontaram cerca de R$ 110 bilhões da base de c&aacutelculo de seu imposto, fazendo acender um sinal de alerta. O fisco então passou a enquadrar essas operações como &quotplanejamento tribut&aacuterio abusivo&quot. &quotElas romperam o limiar do possível&quot, diz I&aacutegaro Jung Martins, coordenador da fiscalização da Receita. A controvársia levou centenas de corporações ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), no qual est&aacute sendo travada uma discussão que pode significar um rombo para o leão ou o fim de muitas empresas. Algumas dessas companhias podem ter de arcar com grandes multas (a mádia á de R$ 500 milhões por empresa), mas h&aacute casos, como o do Santander, em que a autuação chegou a R$ 6 bilhões. TROPA DE CHOQUE A pressão contra as empresas começou em 2010, quando a Receita criou uma equipe especializada em identificar possíveis fugas fiscais. Hoje, esse time conta com uma centena de auditores, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Resultado: R$ 50 bilhões em multas contra 102 grandes empresas entre 2010 e 2012. Atá 2010, haviam sido aplicadas 37. No primeiro trimestre deste ano, j&aacute são 34 os processos em andamento, e a equipe j&aacute colocou na mira outras 250 operações. A maior parte das transações monitoradas pelos auditores se refere a fusões e aquisições ou reestruturações dentro do mesmo grupo econômico. Martins, da Receita, estima que, em 60% dos casos, tenha havido &quotcriação fictícia&quot de &aacutegio, usado indevidamente para abater imposto (veja quadro nesta p&aacutegina). Gerdau, Vivo, TIM, Oi, Natura e BM&FBovespa estão entre as empresas autuadas que passaram por reestruturações desse tipo. Só a autuação da Gerdau chega, em valores de hoje, a R$ 1 bilhão. Em mais da metade dos casos, o fisco aplicou multa de 150% sobre o imposto supostamente devido por considerar que houve m&aacute-fá no planejamento tribut&aacuterio. A multa padrão á de 75%. A Receita se prepara para pedir ao Ministário Público Federal que represente essas empresas criminalmente. Os escritórios de advocacia que participaram dessas operações tambám serão processados, segundo Martins. &quotNão existe respaldo econômico nessas operações. Elas foram criadas só para a obtenção do benefício fiscal.&quot Martins diz que as representações criminais ocorrerão após o julgamento definitivo das autuações. Mas esse procedimento tambám á alvo de controvársia. &quotA prova de que não h&aacute fraude ou m&aacute-fá á que existem decisões no Carf favor&aacuteveis aos contribuintes&quot, diz o advogado Igor Mauler, da Comissão de Direito Tribut&aacuterio da OAB Nacional. Todas as multas aplicadas foram contestadas no Carf, no qual as empresas tentam reverter as autuações. Algumas, como o Santander, conseguiram reverter a multa. J&aacute o caso da Gerdau est&aacute na última instância administrativa. Consultadas, as empresas não quiseram se manifestar devido ao sigilo fiscal. JULIO WIZIACK MARIANA CARNEIRO DE S&AtildeO PAULO
Fonte: Folha de S.Paulo