Pesquisa vê ambiente complexo para negócios no Brasil – 09/05/2011

O ambiente de negócios brasileiro tornou-se mais complexo no biênio e a tendência deve continuar para os próximos dois anos. A crise financeira e seu efeito na economia real internacional teve pouco efeito sobre isso. No caso do Brasil fizeram diferença fatores como maior regulação dos mercados e aumento de competição, juntamente com o grande número de fusões e aquisições e a maior velocidade das inovações.
Essa foi uma das conclusões de pesquisa internacional feita pela KPMG para verificar como os executivos analisam a maior complexidade de negócios num total de 22 países. Para Augusto Sales, sócio da KPMG e um dos coordenadores da pesquisa no Brasil, o resultado refletiu o descolamento entre o crescimento da economia brasileira e o comportamento de mercados tradicionais, como o americano, por exemplo.
A percepção disso por executivos brasileiros se reflete na importância dada às fusões e aquisições como motor importante no aumento de complexidade dos negócios, por exemplo. Com perspectiva de maior crescimento econômico, o Brasil tem atraído investidores. Sales lembra que as fusões e aquisições causam mudanças no mercado e elevam a competição entre as empresas. Segundo a pesquisa, 30% dos entrevistados – o percentual mais alto entre todos os países pesquisados – apontam as fusões e aquisições como um fator que elevou a complexidade nos negócios. “O Brasil tem sido procurado por investidores do mundo inteiro e para diversas áreas”, diz Marienne Coutinho, sócia da KPMG e também coordenadora do levantamento. O assédio, diz ela, tem superado as expectativas iniciais.
A maior complexidade, segundo a pesquisa, traz novos desafios. Um deles refere-se à necessidade de maior qualificação profissional, fator apontado por 92% dos dirigentes que participaram do levantamento no Brasil. Para Sales, esse item reflete um problema que muitos setores já sentem com o recente crescimento econômico do país. “Muitas empresas já percebem uma dificuldade maior para encontrar mão de obra e há uma grande preocupação com a falta de qualificação para os próximos anos.” Cerca de 86% dos executivos entrevistados acreditam que a complexidade torna mais acirrada a competição e 80% dos entrevistados diz que as decisões tornam-se mais difíceis de serem tomadas. “Hoje empresas tradicionais de alguns setores já recorrem a consultorias para decisões que há cerca de cinco anos seriam tomadas dentro da empresa.”
Apesar dos novos desafios, a pesquisa mostra que há grande expectativa que as mudanças no ambiente de negócios brasileiros possam ser positivas para as empresas. Em torno de 95% dos entrevistados no Brasil – o maior percentual entre todos os países pesquisados – acreditam que a complexidade maior traga como uma oportunidade para fazer as companhias mais eficientes. Um total de 88% dos dirigentes entrevistados vê perspectivas de criar novas e melhores estratégias e cerca de 80% acredita que haverá oportunidade para expandir mercados.
Outro diferencial do Brasil, aponta Marienne, é que apenas 17% dos executivos do país acreditam que a atuação em mais países contribua para aumentar a complexidade de negócios interna. Trata-se do menor percentual entre os países pesquisados. Para Marienne, isso acontece porque o Brasil já é relativamente mais complexo. “É mais fácil para nós compreender a China e a Índia, por exemplo.” A consultora atribui boa parte da complexidade brasileira ao sistema tributário, que necessita de mudanças aceleradas para tornar-se mais harmonioso com o sistema dos demais países.
Marta Watanabe | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico