SÃO TREZENTOS PICARETAS COM ANEL DE DOUTOR…

Sob este refrão e a voz de Herbert Vianna, o grupo Paralamas do Sucesso, há algum tempo transitava com significada reprodução nas principais rádios de nosso País, a música “Luís Inácio”, na qual o mencionado grupo, se referindo ao Sr. Ex-Presidente da República, transmitia a sua observação e aparente indignação no sentido de que o Congresso, naquela ocasião era formado, em sua grande maioria, por picaretas interessados apenas e tão-somente na satisfação de seus próprios interesses e dos “coronéis” que lhes apadrinhavam.

Advertia a respectiva música, dentre outras coisas, que “Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou, são trezentos picaretas com anel de doutor… Eles ficaram ofendidos com a afirmação que reflete na verdade o sentimento da Nação. É lobby, é conchavo, é propina, é jeitão, variações do mesmo tema sem sair do tom… Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez, o Congresso continua a serviço de vocês. Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão, pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição. Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena, João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena. De exemplo em exemplo aprendemos a lição, ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão, de rádio FM e de televisão”.
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Neste instante, o passado e o presente se misturam, e aquilo que antes parecia ideologia, compromisso, hoje se demonstra na pior das faces, pois com a submissão da verdade à mentira, da sucumbência do caráter à corrupção, não se vendeu apenas uma história de vida, mas a esperança de toda uma Nação.
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Se antes, a música poderia ser pequena para a inclusão de tantos nomes como João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena, hoje a listagem tem ainda maior extensão, podendo alcançar, inclusive, ao próprio nome que inspirou a referida canção.&#160
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Isso para não dizer na quantidade de deputados, senadores, ministros, governadores, prefeitos, envolvidos com essa artimanha que corrompe os pilares do nosso País. Tudo, absolutamente tudo, é possível diante do pagamento de propinas e “doações” de campanha.
Agora, o próprio Senado Federal, a mando do seu Presidente, se recusa em cumprir ordem da Corte Máxima do nosso País. Nesse ínterim, não devemos nos adentrar à discussão se a decisão judicial que determinou referida ordem era correta ou não, mas sim que havia uma decisão proferida pelo STF e dirigida ao Senado Federal (duas das principais instituições do Brasil) e, necessariamente, teria que ser cumprida.
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Racionar o contrário seria colocar em prova o próprio sistema democrático brasileiro.
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O pior é que em cada eleição se renovam os discursos inflamados tendentes a demonstrar uma realidade que não conhecemos e um governo que nunca presenciamos. A cada eleição, uma constatação: os nossos representantes políticos são muito melhores de oratória, de marketing, do que de ação.
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Se assim não fosse, aquilo que há algum tempo foi objeto de canção, hoje seria exemplo de combate à corrupção.
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E enquanto isso, este gigante propulsor de riquezas chamado Brasil, não é capaz de proporcionar aos seus filhos, um mínimo de condição de trabalho para que os mesmos, diferentemente de seus governantes, façam aquilo que melhor sabem fazer: produzir.
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Entretanto, não obstante se renovar a cada instante os tais trezentos picaretas de plantão, ainda cremos em uma Nação em que se repugna o jeitinho e o espertalhão, fazendo do trabalho, do respeito, da educação e do comprometimento, os grandes baluartes de comportamento e, consequentemente, do desenvolvimento de um povo que bonito por natureza, merece a sua divisa de Ordem e Progresso.
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LUIZ PAULO JORGE GOMES, é Mestre em Direito Tributário pela PUC/SP e atualmente exerce a função de Conselheiro Titular da Primeira Turma Ordinária, da Segunda Câmara, da Primeira Seção de Julgamento do CARF – Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda.
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