Tributo pesa mais para o curto prazo – 06/10/2010

Os investidores externos de mais longo prazo são pouco penalizados pelo IOF de 4% cobrado sobre o capital total no fechamento do câmbio na entrada do dinheiro no país. Já os que vendem o papel em seis meses ou um ano perdem para o fisco parte considerável do seu rendimento.
Levantamento feito por Marcelo Portilho, estrategista da Safra Corretora, mostra isso claramente. Ele considerou um ingresso de US$ 1 milhão para a compra de uma Nota do Tesouro Nacional da Série – F (NTN-F), um título prefixado, de vencimento em 2017 e de rendimento bruto de 11,82% ao ano.
Se o investidor ficar com o papel até o vencimento, vai perder 0,73 ponto percentual com relação a isso: seu rendimento ao ano vai para 11,09%. Antes, com a alíquota de 2% no câmbio, teria um rendimento de 11,46%. A diferença é de apenas 0,37 pontos percentuais.
No caso de transações com resgate em seis meses, o rendimento líquido cai para 3,05% ao ano, uma diferença de 8,77 pontos percentuais em relação ao rendimento bruto. Resgates em um ano terão rendimento de 7,35% e em cinco anos, 10,91%.
Além desse rendimento, o investidor externo que faz o chamado “carry trade” fica com o risco cambial, ou seja, ganha quando o real se valoriza e perde quando o real se desvaloriza. Essa perda ou ganho com a taxa de câmbio precisa ser descontada ou acrescida dessa rentabilidade do título público. No “carry trade”, o investidor não faz hedge da taxa de câmbio.
Para investir em juros no Brasil, o investidor toma emprestado na moeda de seu país. Por isso, tem um custo, que é a taxa de juros da sua moeda, que em alguns casos é zero, como no Japão. Os títulos do Tesouro dos EUA para dez anos pagam 2,5% ao ano. Há também custos operacionais, que variam caso a caso.
Em geral, o investidor externo tende a comprar papéis de mais longo prazo, mas pode vendê-los antes de seu vencimento, se perceber mais risco ou estresse. Segundo o Tesouro, em agosto de 2010 o investidor não residente tinha 10,06% da dívida mobiliária interna do país. É a maior parcela da série histórica. Embora não haja informações oficiais, o mercado estima que cerca de 80% desses papéis tenha prazos superiores a 5 anos.
Mas é fato que o investidor estrangeiro detinha em abril deste ano 60,9% do estoque de NTN-Fs com vencimento em 2017 e 49,3% do volume total de títulos com vencimento em 2021. Esse papel é o preferido pelo estrangeiro por ter prazo longo e pagamento de cupom semestral. No caso das NTN-Bs, títulos atrelados ao IPCA e, portanto, muito demandados por investidores institucionais, o estrangeiro detinha 5,2% dos papéis com vencimento em 2035, 2045 e 2050, somados.
Cristiane Perini Lucchesi, Lucinda Pinto e Eduardo Campos | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico