O JULGAMENTO

Decididamente, diante de tantos tropeços, flagrantes ilicitudes, crise entre os poderes, o Brasil tem atravessado por um momento ímpar em sua história. Jamais, em momento algum, houve tamanha oportunidade de reflexão e, consequentemente, de se reconstruir.

Fernando Pessoa, dentre tantos ensinamentos que nos deixou, um em especial se oportuniza nesse momento: “A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”.

Faço essa observação pelo fato de que não há como mudar uma realidade, senão precedentemente alteramos a atitude daqueles que a vivenciam.

Talvez, nesse novo tempo, atitudes que demonstrem responsabilidade, ética, educação, caráter, comprometimento, já não mais serão objeto de elogios pela sua demonstração, justamente pelo fato de que muito antes de serem adjetivos, se perfazem em verdadeiras obrigações de qualquer ser humano civilizado.

Contudo, em momentos como esse em que há uma grande quantidade de julgamentos dos mais variados assuntos e complexidades sendo realizados, presenciando, inclusive, o Poder Judiciário se manifestar e decidir situações que originalmente não seria da sua competência, temos que ter especial atenção para que o envolvimento de cada um de nós se limite exatamente naquilo que nos é peculiar.

Com isso, evitamos os excessos e, principalmente, se cria a relevante e basilar consciência de respeito às individualidades, no sentido de ter a especial percepção de que o direito de cada um se limita exatamente, no tempo e no espaço, no direito do seu próximo.

Desta forma, por mais que nos pareça certa ou errada a atitude de determinada pessoa, muito antes de julgarmos, nunca devemos nos esquecer de que para todo fato que nos é contado, sempre existirão três verdades: aquela da pessoa que lhe confidenciou; uma outra da pessoa envolvida no respectivo episódio; e uma terceira, que muito provavelmente estará mais isenta de parcialidades e, consequentemente, mais próxima do real.

Isso não se deve, exclusivamente, pelo eventual descomprometimento do narrador com a realidade dos fatos, mas principalmente pela circunstância de que o nosso olhar sobre determinado acontecimento está totalmente relacionado pelo sentimento envolvido no mesmo. E essa circunstância não se difere apenas pelas características individuais de cada ser humano, mas também pelo momento de vida que cada um está presenciando.

Assim, indubitavelmente, a aparência dos fatos, não traduz literalmente a sua substância, por maior que seja a lealdade do seu narrador.

Por todo o exposto, o desejo é que possamos fazer da nossa vida uma grande viagem em que o destino não está em sua chegada, mas em cada um dos trechos que nos levam a ela, fazendo deles a grande aprendizagem com o percurso da nossa história, na nítida certeza de que somos muito mais do que aquilo que nos dizem ser. Somos, em nossa essência, aquilo que vemos, aquilo que sentimos.

LUIZ PAULO JORGE GOMES, é Advogado, sócio da Jorge Gomes Advogados, Mestre em Direito Tributário pela PUC/SP, Ex-Conselheiro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF.