Governo propõe zerar tributos do etanol – 10/07/2012

Planalto vai tomar medidas para estimular a produção de álcool anidro, a fim de elevar o teor de mistura à gasolina
Ressarcimento de produtores está em estudo ideia é reduzir custos e desafogar as contas da Petrobras
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
LUCAS VETTORAZZO
DO RIO
O governo Dilma tomará um conjunto de medidas para estimular a produção de etanol no país e, assim, ajudar a Petrobras a tentar resolver seu problema de caixa.
Além da decisão de elevar para 25% o teor de álcool misturado à gasolina, o Executivo estuda ainda ressarcir os produtores por tributos pagos e até zerar algumas cobranças, como de PIS/Cofins.
Segundo a Folha apurou, a Casa Civil busca soluções para catalisar a produção nacional. Por trás dessa preocupação está a Petrobras.
A companhia estatal está com suas contas sufocadas porque precisa comprar gasolina no exterior (mais cara) para dar conta do mercado doméstico, mas não pode repassar a conta para o consumidor porque o Palácio do Planalto não deixa.
Por isso, o aumento da mistura do álcool à gasolina é providencial para a Petrobras, pois passaria a adquirir menos combustível lá fora -o Brasil exporta petróleo bruto e importa derivados.
Autoridades do Executivo disseram à Folha que a presidente Dilma Rousseff já autorizou o aumento da mistura, mas somente se houver aumento da produção brasileira de álcool.
Foi o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) quem vocalizou essa condição. “Estamos mantendo os 20%, mas a qualquer momento poderemos voltar aos 25%. Se a produção de etanol continuar no patamar em que se encontra hoje, e em que estava no ano passado, vamos mantê-la em 20%”, disse Lobão, ontem.
O presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Antônio de Pádua Rodrigues, terá hoje uma reunião na ANP (Agência Nacional do Petróleo) para discutir o aumento na produção de álcool anidro em prejuízo, por exemplo, da produção de açúcar e álcool hidratado.
O álcool anidro é aquele misturado à gasolina, enquanto o hidratado vai direto no tanque de combustível.
“A safra está dada [a previsão de moagem de cana é de 509 toneladas, 2012-2013] e a indústria está pronta para atender o pedido do governo. Será o governo quem vai nos dizer se quer mais anidro em detrimento do hidratado ou do açúcar”, afirmou o representante da Unica.
CRÉDITO À CANA
Sobre as outras ações para o setor, a Folha apurou que o Executivo prepara uma medida provisória para dar crédito presumido à produção de cana-de-açúcar usada para fazer etanol -hoje só há ressarcimento de contribuições pagas ao produtor que produz açúcar. A discussão agora é sobre se há espaço fiscal para tanto.
O Ministério da Fazenda é contra a proposta de zerar PIS/Cofins do etanol, mas a Casa Civil, segundo interlocutores do Palácio do Planalto, é favorável.A operação para ajudar o caixa da Petrobras está mobilizando toda a Esplanada desde que a presidente da empresa, Graça Foster, atacou problemas nas gestões passadas. Além de citar planejamentos fora da realidade, a executiva defendeu redução expressiva nos custos, inclusive os de importação.
Análise
Aumento da mistura do álcool para 25% ajuda Petrobras e é bom para as usinas
A Petrobras tem bons motivos para pedir ao governo a volta da mistura do álcool anidro para 25%. A safra sucroalcooleira deste ano não terá grandes mudanças em relação à anterior. Isso significa que a importação de gasolina, que vem aumentando, vai continuar aquecida.
Distante do mercado externo nos últimos anos, o país não tem uma logística apropriada para a compra de um volume grande de gasolina. Falta estrutura de armazenagem nos portos, e a logística de distribuição para o interior do país é complicada.
O maior uso de álcool na grade de consumo do brasileiro traria menos prejuízo à Petrobras e diminuiria os investimentos das distribuidoras, que têm de levar esse combustível para todo o país.
Mesmo com a alta de preço liberada para a gasolina, a empresa teria prejuízos crescentes com essa evolução das importações, principalmente devido à alta do dólar.
O cenário de safra deste ano pouco muda sobre o de 2011. Mas o abastecimento, como ocorreu em 2011, deve ser assegurado.
Um aumento da mistura de álcool anidro dos atuais 20% para os 25% aliviaria o caixa da Petrobras -que teria de importar menos-, mas forçaria as distribuidoras a buscarem álcool de milho nos Estados Unidos para complementar o abastecimento.
O tempo dessa proposta da estatal, no entanto, não é o mais apropriado. O início de safra com o percentual de mistura definido em 20% fez muita empresa transformar o álcool anidro que tinha em estoque em hidratado.
O álcool anidro é o misturado à gasolina, enquanto o hidratado é o que vai diretamente ao tanque. Ou seja, a importação de álcool anidro poderá ser ainda maior.
A elevação da mistura é boa para as usinas, que podem ter uma demanda maior de anidro, produto que praticamente tem o preço garantido e rende mais.
Ainda seria uma saída para o setor porque o açúcar, o grande competidor do etanol nas safras anteriores, está com queda de preço. Queda nos preços externos do açúcar leva as usinas a produzirem mais álcool, desde que o preço fique competitivo.
MAURO ZAFALON
Fonte: Folha de S.Paulo