Realidade mundial, o Brasil também tem um peso expressivo das empresas familiares na economia. Pesquisa da consultoria Mckinsey, com 57grandes grupos empresariais brasileiros, mostra que 65% das empresas com receita anual acima de US$ 200 milhões no Brasil pertencem a famílias. Em 43% delas, a segunda geração já está no comando.
É o caso de Rafael Menin, 35, CEO do Grupo MRV – que comanda a maior construtora do país, com 24 mil funcionários, R$ 5,49 bilhões em vendas contratadas e 37.540 unidades concluídas em 2015. Há 17 anos na empresa, Rafael começou como estagiário de obras e aprendeu com o pai Rubens Menin, 60, – e um dos fundadores da megaempresa mineira – que preocupar-se com o time é o sucesso da companhia. “Sozinho, ele (Rubens) não teria conseguido”, acredita o filho, que dirige a empresa há dois anos e um mês.
Perenidade. Para Rafael, o grupo MRV é uma organização de longo prazo. “A empresa faz 37 anos neste ano, e a nossa questão é ser perene, líder de mercado. A agenda do Rubens foi a de conquistar a liderança, e a minha é a de manter a liderança e ser mais competitiva e eficiente”, afirma Rafael.
Além da forte relação de confiança, Rubens – atual presidente do Conselho – considera que o aprendizado continua e é uma via de mão dupla com o filho. “Estou muito satisfeito, foi uma decisão que superou as expectativas. Um planejamento feito há seis anos com acertos”, disse Rubens, que geriu a companhia por 34 anos e contratou consultoria externa para fazer a transição.
Outra mineira que está no processo de sucessão é a Suggar. No dia 1º de setembro, o fundador da única indústria de eletrodomésticos de Minas Gerais, Lúcio Costa, 68, passa o comando para o filho Leandro. “Ele está na Suggar há 16 anos, estudou mais do que eu, fez intercâmbio nos Estados Unidos, domina o inglês. Diferente de mim”, conta Lúcio, que vai se dedicar ao conselho da Fiemg e a outras atividades classistas. Para Costa, o melhor conselho para o filho é o exemplo. “Sempre fui o primeiro a chegar, enfrentava tudo, tinha calma, sutileza. Eu sou um vendedor acima de qualquer coisa”, conta o empresário, que trabalha desde os 12 anos, quando foi office-boy.
Para Leandro – que começou na auditoria da empresa –, o desafio é ampliar a participação da Suggar conquistando a liderança em outros produtos, como secadores de roupa e forno elétrico. “São 120 mil produtos fabricados por mês, sendo 80 mil lavadoras. Somos líder de mercado nos segmentos de lavadoras semiautomáticas, coifas e depuradores de ar”.
Há 30 anos no Grupo Zema – conglomerado de R$ 3,4 bilhões em 2015, 480 lojas, 320 postos de combustíveis operados por terceiros, cinco concessionárias e 6.000 funcionários – Romeu Zema, 51, conta que aprendeu com o pai Ricardo, 74, a ter atenção com o cliente. “As pessoas querem ganhar, e não servir. Nossa empresa tem a cultura de atender o cliente”, conta.
Lucratividade
Retorno. Pesquisa da Bain&Company diz que o retorno para o acionista em empresas listadas nas quais os fundadores ainda estavam envolvidos foi três vezes maior do que na média das outras.
CEO da gigante Algar começou a carreira em outra companhia
À frente da Algar – gigante mineira com atuação nos setores de TIC, agro, serviços e turismo, faturamento de R$ 5 bilhões e 22 mil funcionários – o CEO do grupo, Luiz Alexandre Garcia, 51, é neto do fundador e já é a 3ª geração no comando. Há dez anos na função, Garcia conta que estar dentro da família não o levou automaticamente ao cargo. “Busquei minha formação acadêmica e trabalhei por quatro anos no Brasil e no exterior em empresas que não fazem parte do grupo. Depois disso, concorri a uma vaga de gerente na Algar Telecom”.
A escolha de Garcia para dirigir a companhia foi feita a partir de um processo seletivo, em concorrência com executivos que fizeram carreira na empresa. Foram considerados conhecimentos, habilidades e atitudes.
Como preparação para o cargo, Garcia conta que se graduou em Ciências Econômicas, fez MBA pela Catholic University of America, Washington D.C. (EUA), especialização em Marketing pela American University of Paris, e Programa de Desenvolvimento de Executivos pelo IMD – Lausanne, Suíça.
Comecei minha carreira no Banco Mundial em Washington, nos EUA. Depois, passei pela Ericsson, em Dallas (EUA) e São Paulo, e pela Bull, na França. “Ingressei na Algar Telecom como coordenador na área de celular e a partir desse momento trilhei meu caminho no grupo”, relata.
Para Garcia, a formação dos herdeiros para o papel de acionista é de fundamental importância independentemente de estarem futuramente na gestão ou não.
Fonte: O tempo